A Medicina Integrativa classifica a Terapia de Florais como uma Terapia Não Convencional (TNC), uma vez que esta técnica não está inserida na metodologia clássica científica.
A Medicina Integrativa (MI) preza pelo diagnóstico nosológico médico e identifica que esta TNC, integrada ao conjunto de outras terapias convencionais, pode amplificar os cuidados terapêuticos, quando se trata de quadros clínicos psicoemocionais de baixa complexidade. Acredita que novas tecnologias e metodologias devem ser empregadas no estudo das terapias de florais para que se possa atribuir uma melhor qualificação desta TNC.
A Inserção das Terapias de Florais na Medicina Integrativa
As Terapias de Florais consagradas, que possuem os estudos clínicos mais relevantes, são incluídas na MI com uma Técnica Não Convencional (TNC), que integra os tratamentos convencionais nos quadros clínicos de baixa complexidade, principalmente associados às características psicoemocionais. Não existe terapia, seja ela convencional, tradicional, não convencional ou práticas complementares de bem-estar, que seja inócua ao paciente.
Com isso, a Sociedade Brasileira de Medicina Integrativa (SBMI) entende que a integração das TNCs, no modelo integrativo, necessitam de formação técnica, habilitando o profissional de saúde com o conhecimento adequado e o discernimento para a indicação, aplicação, encaminhamento e evolução clinica. Dessa forma, evitam-se possíveis agravamentos clínicos e os riscos físicos e psíquicos do uso inadequado das terapêuticas.
Integração Médica com a Terapia de Florais
A Terapia Floral foi desenvolvida em 1930, pelo médico cirurgião britânico Dr. Edward Bach, que, analisando os aspectos da natureza humana, compreendeu que muitas das vezes não era a “doença” que precisava ser tratada, mas características da personalidade e o estado de humor do paciente. Ele acreditava que a doença provém principalmente de desarmonias físicas e mentais causadas por estados negativos da mente (Halberstein et al., 2007).
Em suas pesquisas e estudos farmacobotânicos, elaborou um sistema de 38 essências de florais (conhecidos atualmente como Florais de Bach). Ele teorizou que as preparações botânicas diluídas poderiam ajudar no reequilíbrio de um indivíduo que experimenta sofrimento emocional, como ansiedade, luto, medo, depressão ou solidão. Bach acreditava que capturar a “essência” de uma flor em uma forma líquida não tóxica poderia aproveitar sua energia de cura inata e, assim, ser mais seguro e eficaz do que os componentes químicos biodinâmicos da planta (Halberstein et al., 2007).
Como princípio, a terapia descreve arquetípicos de semelhança a desarmonias de sentimentos”, no qual os sinais e sintomas se identificam como reações sofridas pela desarmonia emocional, induzindo ao processo de adoecimento. Assim, os florais se classificam de acordo com os sentimentos, com o propósito de equilibrar os indivíduos de forma sutil e vibracional, valendo-se dos sintomas como ferramenta para descobrir a causalidade da doença (Costa, 2021). O Sistema Floral de Bach possui 38 essências, que possuem a energia vital das flores, cada uma para um tipo de personalidade, atuando no campo energético do organismo promovendo seu equilíbrio (Costa, 2021).
A intenção original desta terapia não convencional é tratar a saúde emocional, proporcionando um estado de “bem-estar” que permite ao indivíduo lidar com as adversidades representadas em suas características psicológicas e comportamentais, entretanto, sem caracterizar um tratamento para doenças psiquiátricas (Thaler et al., 2009). Os florais de Bach podem ser prescritos para uma variedade ampla de problemas, como insônia, dores, atenuação de sintomas da menopausa, ansiedade, variações de humor e obesidade (Howard, 2007; Pancieri et al., 2018), sendo uma terapêutica inócua e de baixo custo (Costa, 2021), podendo ser utilizada para todas as faixas etárias.
Os praticantes de Bach descrevem que o poder curativo das essências das flores é liberado pela energia do sol na água natural da nascente. A cura com essências de pedras preciosas envolve a exposição de pedras preciosas, incluindo opalas, esmeraldas e ametistas, em água destilada para direcionar a luz solar. A água retém a essência – também chamada de “impressão vibratória” ou “memória” – da planta ou pedra preciosa individual, que então serve como o agente medicinal ativo. A água natural da nascente por si só (essência de “água de rocha”) também é considerada como imbuída de qualidades curativas quando colocadas ao sol por um período de 3 horas (Halberstein et al., 2007).
Os concentrados originais continuam a ser preparados pelo Bach Centre of Sotwell, Oxfordshire, Inglaterra e comercialmente engarrafados e distribuídos pela Nelson Company em Londres. Outros remédios similares de essência de flores estão disponíveis; no entanto, eles não são oficialmente autorizados ou endossados pelo Centro Bach (Nauman, 2000). Um exemplo é a linha de produtos do Flower Essence Service com sede nos Estados Unidos (www.fesflowers.com). Outra é Healing Herbs, Ltd. em Hereford, Inglaterra (www.healingherbs.co.uk) (Halberstein et al., 2007).
Os Florais são uma das terapias integrativas mais utilizadas no Brasil (Costa, 2021). Atualmente, os conselhos das mais diversas áreas de saúde possuem entendimentos divergentes sobre as terapias de florais. Vários profissionais podem prescrever e utilizá-los, tais como enfermeiro (Parecer do Coren-DF 023/2009), Farmacêuticos, Odontólogos (CFO-82/2008), e o Fisioterapeuta (COFFITO N° 380/2011; COFFITO N° 611/2017) (Costa, 2021).
Apesar dos florais serem prescritos em nosso país por médicos, esses não constituem como medicamentos homeopáticos, os quais possuem sua preparação normatizada pela Farmacopeia Homeopática Brasileira e também não se constituem como medicamentos fitoterápicos, pois sua elaboração é sistematizada utilizando plantas folhas ou raízes), concentração e princípio ativos definidos e regulamentados. Os florais somente contêm a essência das flores, não estando sob amparo técnico de uma farmacopeia vigente.
Estudos vem sendo conduzidos no país sobre esta terapia não convencional, seguindo as mais diversas normatizações metodológicas e éticas. Dentre as Práticas Integrativas, a utilização de Florais de Bach é umas das terapias mais avaliadas em pesquisas pré-clínicas e clínicas, assim como levantamentos em revisões de literatura e revisões sistemáticas. São abordados tratamentos em diversas esferas, em universidades e/ou instituições públicas e privadas, sendo o estresse e ansiedade temas frequentes, observando-se efeito benéfico no manejo destas condições traumáticas (Salles, da Silva, 2012; Machado, 2017; Barbosa, 2019).
Na UNESP de Botucatu-SP, trabalho conduzido por Fusco et al. (2021) verificaram a eficácia da terapia de florais no tratamento de ansiedade em pacientes acima do peso, uma questão preocupante no cenário atual globalmente. O grupo que sofreu a intervenção recebeu uma solução hidroalcólica contendo os florais Impatiens, White Chestnut, Cherry Plum, Chicory, Crab Apple, e Pine, sendo comparado a um grupo controle que recebeu a solução hidroalcólica. Os parâmetros primários avaliados foram ansiedade e desfechos secundários foram sono (Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh [PSQI]), compulsão alimentar (Binge Eating Scale [BES]) e RHR (eletrocardiograma). Foi observado que os sintomas de ansiedade, compulsão alimentar e RHRs dos indivíduos tratados com terapia floral diminuíram e seus padrões de sono melhoraram quando comparados aos tratados com placebo.
No Brasil, o Instituto Bach é representante direto do Bach Centre da Inglaterra, oferecendo os Cursos do Programa Internacional do Bach Centre e os Cursos Vivenciais, que visam aprofundar o autoconhecimento e autocura. Há ainda o Instituto Edward Bach em Campinas, chancelado também pelo instituto da Inglaterra.
Alguns centros de atendimento estão disponíveis à população de forma gratuita. O Hospital do Servidor Público Municipal (HSPM) em São Paulo oferece atendimento clínico ao público, assim como desenvolve pesquisas sobre florais de Bach. A UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) detém um Ambulatórios de Florais, além de terem sido realizadas pesquisas sobre a terapia no Núcleo de Cuidados Integrativos do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da UNIFESP. Na Universidade Federal da Paraíba, há o Ambulatório de Florais (NEPHF). Em Minas Gerais, os atendimentos prestados pelo ambulatório de Práticas Integrativas e Complementares (PICs) da Faculdade de Enfermagem da UFG são nacionalmente conhecidos.
Podem ser citados alguns profissionais de renome nacional. Em São Paulo, encontra-se Sandra Epstein, que desenvolveu um sistema florais e vibracionais da Mata Atlântica (Ararêtama), Profª Sandra Epstein e Profª Ms. Márcia Regina Donatoni Urbano, que também são divulgadoras das essências florais do Sistema Ararêtama. Ainda em São Paulo, encontra-se a terapeuta floral Thais Accioly e Lizete de Paula no Rio de Janeiro. Em Brasília, a médica Dra. Kátia Carvalho Abreu é terapeuta e professora há mais de 20 anos, sendo instrutora independente do Programa Internacional de Educação de Florais de Bach no Brasil no Instituto Bach Centre Brasil. Em Campinas, destaca-se a fundadora do Instituto Dr. Edward Bach, Carmem Monari. Na Universidade Federal da Paraíba, há o Ambulatório de Florais (NEPHF) com atendimento pela terapeuta floral Alzira Elisa Dantas Maia.
Referências:
- Barbosa, JS. Florais de Bach no tratamento do estresse percebido por acadêmicos de enfermagem à luz da teoria de Betty Neuman. 2019. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2019.
- BRASIL. Conselho Federal de Farmácia. Resolução nº 611, de 29 de maio de 2015. Dispõe sobre as atribuições clínicas do farmacêutico no âmbito da floralterapia, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 09 jun. 2015. Disponível em: <https://www.legisweb.com.br/ legislacao/?id=285534>. Acesso em: 03 mai 2022.
- BRASIL. Conselho Federal de Enfermagem. Parecer Técnico Coren-DF Nº 23/2009. Legalidade da prescrição de Floral de Bach pelo profissional Enfermeiro. Disponível em: < https://www.coren-df.gov.br/site/nd-0232009-legalidade-da-prescricao-de-floral-de-bach-pelo-profissional-enfermeiro/>. Acesso em: 03 mai 2022.
- BRASIL. Conselho Federal de Odontologia. Resolução CFO-82, de 25 de setembro de 2008. Reconhece e regulamenta o uso pelo cirurgião-dentista de práticas integrativas e complementares à saúde bucal. Disponível em: < https://sistemas.cfo.org.br/visualizar/atos/RESOLU%C3%87%C3%83O/SEC/2008/82>. Acesso em: 03 mai 2022.
- BRASIL. Conselho Federal de Fisioterapia. Acórdão nº 611, de 01 de abril de 2017. Normatização da utilização e/ou indicação de substâncias de livre prescrição pelo fisioterapeuta. Disponível em: < https://www.coffito.gov.br/nsite/?p=6670>. Acesso em: 03 mai 2022.
- BRASIL. Conselho Federal de Fisioterapia. Resolução COFFITO nº. 380, de 3 de novembro de 2010. Regulamenta o uso pelo Fisioterapeuta das Práticas Integrativas e Complementares de Saúde e dá outras providências. Disponível em: < https://www.coffito.gov.br/nsite/?p=1437>. Acesso em: 03 mai 2022.
- Brasil. Departamento de Atenção Básica. Práticas Integrativas e Complementares. Portal da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2006; [citado 20 junho 2016]; disponível em: <http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_pic.php.Acesso em: 07 nov 2021>.
- Conselho Federal de Farmácia. CFF regulamenta a atuação do farmacêutico na floralterapia. Disponível em: <http://www.cff.org.br/noticia. php?id=2846>. Acesso em: 03 mai 2022.
- Costa KAM. Efetividade da terapia com Florais de Bach. Brazilian Journal of Development 7(1): 107027-10703, 2021.
- Fusco SFB, Pancieri AP, Amancio SCP, Fusco DR, Padovani CR, Minicucci MF, Spiri WC, Braga EM. Efficacy of Flower Therapy for Anxiety in Overweight or Obese Adults: A Randomized Placebo-Controlled Clinical Trial. J Altern Complement Med. 27(5):416-422, 2021.
- Halberstein R, DeSantis L, Sirkin A, Padron-Fajardo V, Ojeda-Vaz M. Healing with Bach flower essences: testing a complementary therapy. Complement Health Pract Rev 12:3-10, 2007.
- Machado, MSL. O uso do composto emergencial dos florais de Bach para ansiedade:revisão sistemática com metanálise. São Paulo: IAMSPE, 2017. 36 p. Tese (Mestrado em Ciências da Saúde) -Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de São Paulo, 2017.
- Pancieri AP, Fusco SB, Ramos BI, Eliana Mara Braga EM. Meanings of flower therapy for anxiety in people with overweight or obesity. Revista Brasileira de Enfermagem 71(suppl 5): 2310-2315, 2018.
- Salles LFS, da Silva MJ. Efeito das essências florais em indivíduos ansiosos. Acta Paulista de Enfermagem 25( 2): 238-242, 2012.
- Thaler K, Kaminski A, Chapman A, Langley T, Gartlehner G. Bach flower remedies for psychological problems and pain: a systematic review. BMC Complement Altern Med. 9(16):1-12, 2009.