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Termalismo – Crenoterapia

A Medicina Integrativa (MI) classifica o Termalismo como uma Prática Complementar de Bem Estar (PCBE), reconhecendo em suas características físico-químicas e hidromecânicas, utilizadas por diversas culturas como um hábito terapêutico de bem-estar. A Crenoterapia não substitui quaisquer terapias convencionais, mas complementa os tratamentos, quando prescritos a partir de um diagnóstico nosológico médico. Esse PCBE colabora para uma excelente praxe de vida saudável e bem estar para os que utilizam sua prática.

A Inserção da Termalismo / Crenoterapia na Medicina Integrativa

O Termalismo / Crenoterapia é integrado a Medicina Integrativa com uma PCBE, podendo ter uma interface com técnicas convencionais e não convencionais, quando associado ao diagnóstico nosológico médico. A prática do termalismo também possui uma ação biopsicossocial.

A MI ratifica em seus conceitos que não existe terapia inócua e, com isso, a Sociedade Brasileira de Medicina Integrativa entende que o método integrativo requer formação técnica profissional para o discernimento da indicação, aplicação, encaminhamento e evolução clinica com a utilização das PCBEs, resguardando, assim, possíveis agravos clínicos e os riscos físicos e psíquicos do uso inadequado das práticas complementares de bem-estar.

Integração Médica com o Termalismo

O termalismo e crenoterapia se referem ao conjunto de atividades terapêuticas desenvolvidas no espaço de um estabelecimento balneário e que tem como agente terapêutico a água termal, com propriedades físico-químicas distintas das águas tratadas (Pires, Montandon, 2006).

Originado na França, na época greco-romana, passou por séculos de esquecimento até ser renascido em 1604 por Henry IV na edição da primeira “Carta das águas minerais” seguido mais tarde por Napoleão III que impulsionou o termalismo moderno (Leandro, Leandro, 2015; Quintela, 2004). Prosperou com a própria expansão romana, a invasão árabe, as cruzadas; e, períodos de decadência ocorreram durante as invasões bárbaras e, mais recentemente, com a segunda guerra mundial, quando se observou nova fase de declínio (Arango, 2002).

Com a evolução da medicina foi a grande impulsionadora do declínio, no início do século XX e, muitos dos tratamentos que eram realizados nas termas, passaram a ocorrer em hospitais, com o desaparecimento quase que total dos centros termais na Europa. Já no Brasil, o hábito foi introduzido a junto com a colonização portuguesa, que usavam águas minerais para tratamento de saúde. Em 1841, foi escrita a primeira tese águas minerais, apresentada na Escola de Medicina do Rio de Janeiro, escrita pelo Médico Dr. Antônio Maria de Miranda Castro, sendo o primeiro inventário realizado sobre estações de águas brasileiras, apresentando-se como um marco no termalismo brasileiro. As águas existentes nos estados brasileiros foram classificadas, sendo divulgadas as termas de Minas Gerais (Caxambu e Poços de Caldas) e de Santa Catarina (Caldas da Imperatriz) (Quintela, 2004). O panorama manteve-se até a década de 1980 quando ocorreu, na Europa, um ressurgimento dos valores da hidroterapia como forma de manutenção da saúde integral, com a reabertura de grande número de termas e centros hidroterápicos; porém, no Brasil, esta revalorização não ocorreu da mesma forma (Bonfada et al., 2013).

No Termalismo, considera-se que a melhora do paciente advém da vaso-dilatação periférica pelas imersões em águas termais quentes, promovendo um restabelecimento do equilíbrio ácido-básico e mineral, melhora da função cardiovascular, da secreção gastro-pancreática, do peristaltismo intestinal, da função hepática e da função renal como diurético (Quintela, 2004). Na reumatologia, as águas são usadas para ingestão, hidroterapia, reeducação postural e relaxamento muscular. Técnicas com compressas de lama sulfurosa são usadas em artrites e osteoartrites. A prática destes tratamentos foi idealizada por Vicente Priessnitz (1829), inventor da conhecida cura termal (Bonfada et al., 2013).

Existem variedades tanto de águas mineromedicinais quanto de técnicas para sua aplicação. As águas podem ser classificadas em cloruradas, sulfuradas, radioativas, bicarbonatadas, sulfatadas, ferruginosas, entre outras (Arango, 2002). Tanto as águas quanto os barros associados, utilizados como matéria-prima são aplicadas utilizando-se de diferentes técnicas como: os banhos, aplicações a pressão, por vias respiratórias, saunas, estufas e banhos de vapor, além de aplicações via oral, peloides e parafangos, cada uma com indicação médica específica (Quintela, 2004; Arango, 2002).

A técnica é conduzida em centros termais, sob a responsabilidade de um médico Hidrólogo, que realiza o diagnóstico nosológico médico, devendo ser um profissional capacitado (Quintela, 2004). A hidrologia médica é a ciência que estuda as águas e suas aplicações terapêuticas no organismo saudável e enfermo e, portanto, possui dupla vertente: preventiva e curativa (Quintela, 2004). Dando continuidade a esta linha de pensamento, e compreendendo a saúde do ponto de vista integral, a SEHM – Sociedade Espanhola de Hidrologia Médica – entende que as possibilidades terapêuticas estão relacionadas, em última análise, à manutenção da qualidade de vida (SEHM, 2013).

A Hidrologia Médica atualmente é aceita e reconhecida internacionalmente como modalidade terapêutica natural, efetiva e não invasiva, que age principalmente nos âmbitos da geriatria já que as curas termais exercem efeito preventivo e terapêutico, sobretudo em patologias crônicas, beneficiando patologias relacionadas às “afecções reumatológicas, traumatológicas, neurológicas, psiquiátricas, dermatológicas, neurológicas, vasculares, digestivas, urinárias, otorrinolaringológicas, ginecológicas, psicofuncionais, entre outras” (SEHM, 2013). A atuação do médico hidrólogo é considerada peculiar, pois além da prática clínica e do conhecimento acerca da água, seus derivados, fatores climáticos e ambientais, possui atribuições específicas dentro do estabelecimento onde atua. Está responsável na gestão e supervisão da qualidade, na análise qualitativa das águas frente aos tratamentos, no design e implementação dos centros, consideradas as especificidades estruturais necessárias (SEHM, 2013).

No Brasil, usualmente, o acesso aos estabelecimentos termais não impõe uma passagem prévia por um médico, nem esse tipo de terapia está integrado em um sistema de saúde. Também não é necessária a especialidade em hidrologia médica para exercer clínica em um balneário termal, sendo que hoje inexiste tal disciplina no currículo escolar das universidades de medicina (Quintela, 2004). Já em Portugal é necessário haver supervisão médica para se usar as águas termais. Este tipo de terapia está contemplado no sistema nacional de saúde, sendo comparticipada financeiramente pelo Estado português (Quintela, 2004).

Em 2006, o Ministério da Saúde, em suas atribuições, publicou no ano de 2006 a política nacional para a prática de especialidades integrativas e complementares no Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo o termalismo social. Esta política esteve ancorada em determinações anteriores como as resoluções Ciplan de 1988, que permitiram a manutenção de alguns serviços municipais de saúde em estabelecimentos específicos como Poços de Caldas em Minas Gerais (Bonfada et al., 2013). Além destas, em 2004, uma resolução do Conselho Nacional de Saúde (nº 343, de 2004) pretendia fortalecer o segmento através da revalorização dos mananciais de águas mineromedicinais através do controle e incentivo à pesquisa (Bonfada et al., 2013). Entretanto, a prática do Termalismo Social é praticamente inexistente nos moldes propostos, ainda mais quando comparada a outros países, que oferecem subsídios para seus programas de Termalismo Social (Áustria, Alemanha, Itália, Portugal, Espanha, França, Grécia, Hungria, Eslováquia e República Checa) (Bonfada et al., 2013).

Na Espanha, a Sociedad Española de Hidrología Médica, fundada em 1877, é uma das sociedades médicas científicas mais antigas da Espanha. No país, são mantidas diversas linhas de pesquisa, destacando-se os trabalhos da professora titular de hidrologia médica na Faculdade de Medicina de Sevilla Carmen San Jose Arango possui diversas publicações de diversas obras sobre o tema.

A FEMTEC (the World Federation of Hydrotherapy and Climatotherapy), fundada em 1937, engloba instituições públicas e privadas de todo o mundo. Oferece acreditação, em conjunto com a World Health Organization (WHO).

No Brasil, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) é a única instituição vinculada à FEMTEC, desenvolvendo pesquisas na área de termalismo e crenoterapia.

Referências:

  • Arango CSJ. Hidrología médica y terapias complementares. Sevilla: Universidad de Sevilla, 1998.
  • Bonfada PL, Rezende, MS, Fogaça KCL, Radaelli PB. Termalismo social e hidrologia médica: as potencialidades brasileiras. ENCONTRO CIENTÍFICO CULTURAL INTERINSTITUCIONAL, 11., 2013. Anais Eletrônicos. Disponível em: < https://www.fag.edu.br/upload/ecci/anais/55952a94e7994.pdf>. Acesso em: 08 nov 2021.
  • Leandro ME, Leandro ASS. Da saúde e bem-estar/mal-estar ao termalismo. Sociologia 30:75-96, 2015.
  • Pires R, Montandon E. O termalismo tem lugar na reumatologia nos dias atuais? Revista Brasileira de Reumatologia 46(2): 161-162, 2006.
  • BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 92 p. Disponível em www.saude.gov.br/bvs. Acesso em: 08 nov de 2021.
  • Quintela MM. Saberes e práticas termais: uma perspectiva comparada em Portugal (Termas de S. Pedro do Sul) e no Brasil (Caldas da Imperatriz). Hist. Cienc. Saude-Manguinhos 11(supl. 1): 239-260, 2004.
  • SEHM – SOCIEDAD ESPAÑOLA DE HIDROLOGÍA MÉDICA. La Hidrología y el Medico hidrologo. Disponível em: http://www.hidromed.org. Acesso em: 26 de novembro de 2020.