A Medicina Integrativa (MI) classifica a Biodança como uma Prática Complementar de Bem-Estar (PCBE), que possui atividade física dinâmica, utilizando danças rítmicas, musicalizadas, coreografadas, com a intenção de promover experienciais sensoriais e consciência corporal.
A Inserção da Biodança na Medicina Integrativa
A Medicina Integrativa concebe como uma PCBE a Biodança, que busca, por meio da dança e dos movimentos rítmicos, o desenvolvimento da consciência corporal, das sensações táteis e auditivas e coordenação motora, contextualizado em parâmetros biopsicossociais com relevância integrativa, no auxilio às técnicas convencionais propostas em planos terapêuticos, que permitem a assistência em feitio comunitário.
A MI preza pelo diagnóstico nosológico médico, a avaliação e acompanhamento por profissionais da Educação Física no que se trata de atividade dinâmica corporal em suas características de dança e ritmo. A SBMI entende que a formação dos profissionais de saúde para o encaminhamento e aplicação dessa PCBE se faz necessária para que o mesmo tenha o discernimento sobre o “bem-estar” promovido pela Biodançae os possíveis comprometimento à saúde que essa prática pode promover, sem o acompanhamento devido.
Integração Médica com a Biodança
A Biodança foi desenvolvida em 1960 pelo psicólogo e antropólogo chileno Rolando Toro Arameda, pesquisador do Departamento de Antropologia Médica da Escola de Medicina da Universidade do Chile e no Instituto de Investigações Psiquiátricas do Hospital Psiquiátrico do Chile, onde elaborou um trabalho com pacientes com transtornos psicoemocionais (Reis, 2013). Foram utilizados para o desenvolvimento desta prática conceitos de ciências humanas, filosofia, biologia, tradição e arte, buscando de forma interdisciplinar a interface dessas áreas do saber para a compreensão da realidade que envolve o ser humano (Reis, 2013).
A dinâmica da biodança se aplica em grupo ou individualmente com atividades não coreografadas prezando pela espontaneidade, envolvendo movimentos ou posturas estáticas valorizando a percepção “do sentir” e a conexão intrínseca do indivíduo em seu momento presente.
As técnicas utilizadas na biodança permitem uma ação regulatória do equilíbrio neurovegetativo na vigiência do Sistema Nervoso Autonomo (SNA). As práticas são mediadas por exercícios que criam um intervalo momentâneo da expressão verbal, lentificação dos movimentos e diminuição do estímulo visual, promovendo assim ênfase na regulação/equilíbrio dos impulsos límbico-hipotalâmicos.
A experiência técnica da biodança permite a estimulação distinta entre o Sistema Nervoso Simpático e Sistema Nervoso Parassimpático, com a intenção de compensar o mecanismo psicossomático altamente permeado por fatores emocionais (Diaz, 2013).
O neurofisiologista Prof. Dr. Werner Robert Schmidek, médico especialista em Fisiologia do Comportamento, defende em seus estudos a reconexão dos dois hemisférios cerebrais no campo comportamental (D`Alencar, 2005). O hemisfério direito (HD), com suas ações intuitivas, não verbais, afetivas, artísticas e o discernimento espacial, possuindo uma funcionalidade não separativa das atuações desenvolvidas pelo Hemisfério Esquerdo (HE), racional, verbal, analítico, lógico, linear e temporal. Para o Dr. Schimedek, a Biodança cria essa possibilidade de reconexão funcional entre os hemisférios direito e esquerdo, possibilitando assim uma integralidade física, psíquica e emocional na percepção da realidade, sem a sensação do paradigma da separatividade (D`Alencar, 2005; Diaz, 2013).
Essa Prática Complementar de Bem-Estar (PCBE), está inserida nas Políticas Nacionais de Práticas Integrativas e Complementares (PNPICs). Traz de forma matricial um sistema de integração humana, de renovação orgânica, de reeducação afetiva e de aprendizagem das funções originais da vida, segundo Rolando Toro.
Avançam com linhas de pesquisa e estudos no país sobre Biodança a Universidade Federal de Pernambuco (UFPB), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Universidade de São Paulo (USP). No Brasil a ABRAÇA (Associação Brasileira de Facilitadores de Biodança) divulga a técnica, com facilitadores em vários estados.
A Instituição Biodanza Rolando Toro, representa a Organização Internacional de Biodança que contém de forma matricial os estatutos desta prática integrativa e com estudos, pesquisas e formação. Foi criada preservar a integridade da “Biodanza Sistema Rolando Toro” e sua evolução, de acordo com o modelo teórico, e difundir o legado intelectual e artístico de Rolando Toro.
Referências:
- Reis AC. Subjetividade e experiência do corpo na Biodança. Rev Estud. Pesqu. Psicol. 13(3): 1103-1123, 2013.
- D`Alencar BP. Biodança como processo de renovação existencial do idoso: análise etnográfica. 2005. 220 f. Tese (Doutorado em Sociedade, Saúde e Enfermagem) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2005.
- Dias SMA. A poética do encontro humano: um estudo da biodanza como mediação da educação biocêntrica na transformação do emocionar para novas posturas éticas. 2013. 148 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2013.
- Schimidek HCMV, Schimidek WR, Pedrão, LJ. A vivência da corporeidade por pessoas com deficiência visual por meio da Biodanza. Revista Enfermagem UERJ, 27: e39714, 2019.
- Portaria nº 702 de 21 de março de 2018. (2018). Altera a Portaria de Consolidação nº 2/GM/MS, de 28 de setembro de 2017, para incluir novas práticas na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares-PNPIC. Brasília, DF: Ministério da Saúde.