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Medicina Tradicional Chinesa

Segundo a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é a “abordagem terapêutica milenar, de origem chinesa, que tem a teoria do yin-yang e a teoria dos cinco elementos como bases fundamentais para avaliar o estado energético e orgânico do indivíduo, na inter-relação harmônica entre as partes, visando tratar quaisquer desequilíbrios em sua integralidade. A MTC utiliza como procedimentos diagnósticos, na anamnese, palpação do pulso, inspeção da língua e da face, entre outros; e, como procedimentos terapêuticos, acupuntura, ventosaterapia, moxabustão, plantas medicinais, práticas corporais e mentais, dietoterapia chinesa. Para a MTC, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece, aos estados-membros, orientações para formação por meio do Benchmarks for Training in Traditional Chinese Medicine.”

A Medicina Tradicional Chinesa integra o rol de práticas institucionalizadas na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde (SUS), desde a publicação da Portaria Ministerial GM n.849, de 27 de março de 2017.

As Medicinas Tradicionais na Medicina Integrativa

A Medicina Integrativa classifica as Medicinas Tradicionais: Chinesa, Ayurveda e Unani e suas técnicas como Medicina Tradicional (MT), uma vez que seus métodos e técnicas apresentam uma singularidade nos resultados clínicos.

As metodologias científicas atuais requerem uma adaptação na linguagem nas comparações fisiológicas e fisiopatológicas para uma compreensão maior da aplicabilidade da MT.

A MT colabora assim, de forma assertiva com os tratamentos propostos pela Medicina Convencional, sendo usada por milhares de anos, com importantes contribuições no processo de prevenção e tratamento da saúde de diversas nações.

História

Integrar o ser humano à natureza é a base da Medicina Tradicional Chinesa, que atua por meio de práticas que buscam a prevenção da doença, com a harmonização do estado de saúde geral das pessoas.

Para a MTC, saúde significa o equilíbrio energético dos cinco elementos que regem a vida (Madeira, Metal, Água, Terra e Fogo). Essas fases da energia estão em constante movimento (Yin e Yang), se autocontrolando e se autonutrindo, regendo a harmonia entre corpo, mente e espiritualidade. O significado de doença nesse cenário é a ruptura da harmonia no comprometimento das funções do organismo.

É oriunda da filosofia do Taoísmo a Lao-Tsé (LAO ZI), autor do livro Tao Te Ching ou “Livro da Razão Suprema”, compilado, provavelmente, por volta de 300 a.C.. O Taoísmo vê o Universo como uma estrutura única regida pelo Qi (Força ou Energia Vital), que promove o dinamismo e a atividade da matéria orgânica e do ser vivo. O Qi se manifesta sob dois aspectos opostos e complementares: Yang, que representa calor e o aumento das atividades; Yin, que representa o frio e a diminuição das atividades.

O primeiro clássico da medicina tradicional chinesa é atribuído ao mítico Imperador Amarelo, Huangdi Huang Di ou Huang-Ti, um dos reis lendários que teria reinado de 2697 a.C. a 2597 a.C. e que se interessava pela condição da saúde humana.

Com o passar dos anos, acontecimentos históricos foram fundamentais na trajetória da Medicina Tradicional Chinesa. Entre eles: a fundição do bronze, na dinastia Shang (2000 a.C.); a descoberta do álcool (1800 aC. – 1100 aC.); a primeira referência à fundição do ferro (513 aC.501 aC.); instituição de quatro processos de diagnóstico médico: exame da tez, da língua, auscultação com técnicas da época, exame de pulso e história médica do paciente (501 a C.); em 200 aC.–0 dC., na primeira dinastia Han, a consolidação da unificação da escrita (pincel sobre papel), a rota da seda e o contato com mundo árabe; em 51 aC., contato com romanos; em 140 a.C., o surgimento da a primeira obra de alquimia chinesa; em 160 a.C., o surgimento de hospitais e o controle do ensino médico na corte; em 300 (século IV), a publicação das coletâneas de Ge Gong refere-se a moxa para infecções em “Receitas para casos urgentes ao alcance da mão”; em 600, publicação sobre acupuntura; em 618-917, a Dinastia Tang cria o Instituto de Medicina Imperial (Tai Yi Shu) com departamentos separados de acupuntura, moxabustão e farmacologia; em 624, são iniciados os exames sistemáticos, controlados pelo estado representado pelo Tai-yi-chou (grande serviço médico); em 1200, publicações de trabalhos de botânica; em 1500, surgem os hospitais e colônias de leprosos; em 1518-1593 (século XVI), o médico Li Shizhen publica compêndio de matéria médica (Ben Cao Gang Mu) e inclui detalhada descrição da farmacopéia.

Em 1955, é fundada a Administração Estatal de Medicina Tradicional Chinesa da República Popular da China (SATCM – State Administration of Traditional Chinese Medicine of the People’s Republic of China). O objetivo era de organizar e treinar os profissionais, realizar pesquisa acadêmica, explorar a tecnologia e proteger a propriedade intelectual.

Os principais métodos de tratamento da medicina tradicional chinesa basicamente são: acupuntura, ventosaterapia, moxabustão, plantas medicinais, práticas corporais e mentais, dietoterapia chinesa. A Medicina Integrativa reconhece essas terapêuticas e técnicas tradicionais chinesas como práticas de muita relevância no tratamento conjunto com a medicina convencional.

A aculturação da Medicina Tradicional Chinesa no Ocidente é processo em desenvolvimento, iniciado há cerca de quarenta anos. Sua disseminação foi parte de transformações sociais mundiais vindas da contracultura, que inseriu a MTC nas instituições de saúde de países ocidentais, caracterizando uma ruptura com o padrão anterior, de atividade quase restrita às colônias de imigrantes asiáticos.

O desenvolvimento da medicina chinesa pode ser apresentado em três etapas. Na primeira, durante o final dos anos 1960 e toda a década seguinte, presenciamos movimentos de contestação e ataques às estruturas sociais vigentes. O Ocidente foi invadido por práticas artísticas, religiosas e terapêuticas das mais diversas culturas, que trouxeram diferentes visões de mundo e da humanidade. Entre elas, a Medicina Tradicional Chinesa. Durante a década de 80, houve a mercantilização das práticas contraculturais e a Medicina Tradicional Chinesa obteve maior aceitação no âmbito da sociedade civil. No momento seguinte, a prática passou por processo de institucionalização, mediante a formação de instituições educacionais, corporações, associações, conselhos e legislações profissionais, todos em busca de seu espaço na sociedade, incluindo demanda de reconhecimento ou mesmo inserção nos sistemas de saúde.

As medicinas tradicionais são inseridas na medicina integrativa

As Medicinas Tradicionais dispõe de um arsenal terapêutico milenar, o qual a MI integra aos tratamentos convencionais, extraindo excelentes resultados desta fusão de artes médicas seculares com o que há de moderno na medicina convencional, amplificando os tratamentos e proporcionando bem estar.

Esses sistemas tradicionais, que reúnem culturas, crenças e observações empíricas, revelados em um determinado período histórico, muitas vezes não encontram similaridade na demonstração dos seus resultados, quando se utiliza os métodos científicos cartesianos, para os quais prevalece o paradigma mecanicista. Nem por isso devem ser descartados diante dos resultados clínicos assistidos, quando a técnica tradicional é devidamente indicada.

A Medicina Integrativa ratifica em seus conceitos que não existe terapia inócua ao paciente. Que a aplicação de qualquer técnica convencional associada às demais deve possuir um diagnóstico nosológico médico, que propicia a utilização de técnicas tradicionais com a segurança amparada no processo saúde-doença previamente estabelecido.

A Sociedade Brasileira de Medicina Integrativa entende a necessidade de formação técnica profissional para o discernimento da indicação, aplicação, encaminhamento e evolução clínica, na utilização das técnicas e práticas no modelo integrativo, resguardando, assim, possíveis agravos clínicos, riscos físicos e psíquicos do uso inadequado das terapias.

Integração Médica com a Medicina Tradicional Chinesa

A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) possui mais de 5.000 anos de existência, tendo seu primeiro registro formal datado no período 2.698-2.798 a.C no livro do Imperador Amarelo (Catić et al, 2018). Caracteriza-se por um sistema médico integral, tendo sua filosofia baseada nas interações entre os 5 elementos e o Qi, cujo equilibrio estabelece o estado de saúde física, emocional e mental do indivíduo (Catić et al, 2018). Aponta também a teoria do Yin-Yang, divisão do mundo em duas forças ou princípios fundamentais, interpretando todos os fenômenos em opostos complementares (Catić et al, 2018; Fung, Linn, 2015).

Em contraste com a abordagem direcionada à doença adotada pela medicina ocidental, em que há um protocolo de tratamento padrão definido para cada patologia, o MTC adota uma abordagem holística no tratamento do indivíduo com tratamento personalizado baseado no conceito de “Diferenciação da Síndrome”, que por análise de um ponto de vista não linear, monitorando as patologias por aspectos funcionais dinâmicos diversos (Fung, Linn, 2015).

Em nossa contemporaneidade a MTC utiliza o diagnóstico nosológico médico na aplicabilidade de suas terapêuticas em harmonia com os demais tratamentos convencionais, demonstrando a sua versatilidade diante do processo saúde- doença (Portaria nº 971 de 3 maio de 2006).

A MTC é composta por 5 pilares terapêuticos principais (acupuntura, fitoterapia, Tuina, Qi Gong, dieta), sendo praticada na China por mais de 2.000 anos e está se tornando cada vez mais popular no mundo ocidental (Maxion-Bergemann et al., 2006). A MTC evoluiu como um sistema de prática médica da China antiga, baseando-se em características sócio-culturais chinesas milenares, que foram transmitidas através das gerações, com uma ampla gama de terapias, como a Acupuntura, Auriculoterapia, Ventosaterapia, Moxabustão, Acupressão, Fitoterapia, Dietoterapia, Qi Gong e Exercícios Terapêuticos Chineses (Catić et al, 2018).

A China implementou em 2014 a estratégia “Belt and Road” em 2014, consistindo na realização de intercâmbios e colaborações em vários campos, incluindo a MTC, entre os países membros da iniciativa (Zu e Xia, 2019). Atualmente, há um movimento de globalização da MTC, estando presente em mais de 183 países e regiões ao redor do mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, 103 estados membros aprovaram a prática de acupuntura e moxabustão, 29 promulgaram estatutos especiais sobre medicina tradicional e 18 incluíram tratamento de acupuntura e moxabustão em suas provisões de seguro médico (Zu e Xia, 2019).

De fato, o método mais conhecido e utilizado é a Acupuntura. As indicações são diversas, podendo-se citar o tratamento de sinusite, dores crônicas, musculares e articulares, alterações psico-emocionais e do sono, entre outras (Catić et al, 2018).

 

Acupuntura

A Acupuntura é uma tecnologia de intervenção em saúde que aborda de modo integral e dinâmico o processo saúde-doença no ser humano, podendo ser usada isoladamente ou de forma integrada com outros recursos terapêuticos (Rocha et al., 2015). Algumas doenças podem ser prevenidas com a utilização de estimulação de pontos anatômicos localizados no corpo, além de promoção e recuperação de saúde (Tsai, Hsing, 2013).  Acredita-se que tal prática foi desenvolvida há mais de 4.500 anos na China, onde posteriormente foram também desenvolvidos os conhecimentos sobre Fitoterapia e Moxabustão. Desde então, a Acupuntura tem sido praticada em toda a China, divulgada também para outros países como o Japão e a Coreia, e aos poucos vem conquistando adeptos no mundo ocidental (Tsai, Hsing, 2013).

A Acupuntura pode aliviar a dor, melhorar a circulação sanguínea, estimular o metabolismo do tecido local, aumentar a imunidade, regular a circulação sanguínea e prevenir doenças, com as vantagens de ser um método seguro, confiável e de fácil manuseio, baixo risco efeitos tóxicos e colaterais (Wu et al., 2020). Como mecanismos de ação, acredita-se que a Acupuntura libere opioides endógenos que aliviam a dor, modulando estímulos neurais, permitindo que energia (Qi) ou sangue fluam livremente através do corpo (Wu et al., 2020).

É uma das principais técnicas da medicina tradicional chinesa, sendo reconhecida como especialidade médica pelo Conselho Federal de Medicina desde 1995 (Resolução CFM nº 1.455/ 1995). No Brasil, são oferecidos diversos cursos nesta área do conhecimento, com obtenção pelo profissional médico do título de especialista em Acupuntura, obtido por meio de uma prova após término de um curso reconhecido pelo Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA) (Tsai, 2019).

A Acupuntura é uma prática multiprofissional, podendo ser exercida por outros profissionais da área da saúde que estejam devida e legalmente habilitados, como veterinários, dentistas, biomédicos, psicólogos, farmacêuticos, enfermeiros e fisioterapeutas. Para estes últimos, desde 2011 é reconhecido como Especialista em Terapia Ocupacional em Acupuntura os profissionais que atuam no tratamento e reabilitação de pacientes (CREFITO, 2021).

No Departamento de Ortopedia e Traumatologia da UNIFESP, o Setor de Medicina Chinesa-Acupuntura divulga a técnica a médicos e graduandos desde 1992, sendo responsável pelo serviço de Pronto Atendimento em Acupuntura no Hospital São Paulo. Sendo vanguardista na área, o setor oferece residência médica e desenvolve pesquisas nas áreas de sistema motor e oftalmológico. O setor foi fundado pelo Prof. Dr. Ysao Yamamura, cuja contribuição para a acupuntura no Brasil destacou-se nas áreas de ensino e pesquisa, tendo conduzido e participado de estudos clínicos e pré-clínicos na área, além de ter publicado diversos livros nesta temática. A história da fundação da acupuntura no Brasil confunde-se com a carreira acadêmica do Dr. Ysao Yamamura, cuja contribuição foi decisiva para a formação de médicos e professores de acupuntura no país. Foi sócio fundador e presidente da AMBA (Associação Médico Brasileira de Acupuntura), tendo atuação decisiva para o reconhecimento da Especialidade Acupuntura junto ao Conselho Federal de Medicina, e na incorporação da acupuntura no rol de especialidades da AMB – Associação Médica Brasileira (AMBA, 2021).

Na USP, a Acupuntura faz parte das grades de matérias da formação em medicina. Em alguns departamentos, são oferecidos cursos, como o curso de especialização em Acupuntura criado em 1995 e o Centro de Acupuntura do IOT/HCFMUSP, além programa de residência iniciado em 2007 (Tsai, Hsing, 2013).

Outros programas de residência são oferecidos em São Paulo pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto e no Hospital do Servidor Público Estadual Francisco Morato Oliveira – SP. Pode-se citar ainda os programas de residência, como Hospital das Clínicas da UFPE, Hospital de Base do Distrito federal, Hospital Regional Homero de Miranda Gomes São José – SC e Hospital Universitário Prof. Polidoro Ernani de São Thiago – UFSC.

Na UFSC, destaca-se o Prof. Dr. Charles Dalcanale Tesser, que apresenta várias publicações na área de Medicina integrativa e acupuntura. A obra “Medicinas Complementares: o que é necessário saber” (Livraria Unesp) aborda conceitos relacionados à prática de acupuntura, entre outras técnicas.

Na Universidade Federal Fluminense em Niterói – RJ (UFF), a Acupuntura é ministrada na grade curricular do curso de formação em medicina, e existe a pós-graduação médica em Acupuntura desde 1997, discutindo a abordagem da Medicina Tradicional Chinesa junto à da Acupuntura neurofisiológica. Na UFF, destacam-se os trabalhos da Prof. Dr. Marilene Cabral do Nascimento do Instituto de saúde coletiva, com publicações que discorrem sobre a Acupuntura como especialidade médica e sua utilização em serviços de assistência à saúde. Outra pesquisadora desta instituição, a Profa. Dra. Madel Therezinha Luz, tem abordado o papel da Acupuntura em saúde coletiva.

A Universidade Federal de Juiz de Fora mantém um Programa de Extensão Universitária chamado Programa de Medicina em Terapias Não Convencionais e Fitoterapia da UFJF, que objetiva aproximar a atividade acadêmica da atividade prática em comunidade. São realizadas diversas atividades, entre elas, o atendimento ambulatorial de Acupuntura.

No exterior, destaca-se o trabalho de alguns pesquisadores. Pode-se citar o saudoso inglês Hugh MacPherson da Universidade de York. Com vários livros e publicações de referência na acupuntura, o Dr. MacPherson conduziu vários estudos clínicos e elaborou revisões sistemáticas para avaliar a eficácia e custo-benefício da acupuntura para uma variedade de condições. Pesquisas para mapear a utilização e eficácia na dor lombar, depressão e síndrome do intestino irritável, bem como pesquisas que documentam a segurança, custo-benefício e uso comunitário da acupuntura, influenciaram as decisões políticas sobre o reembolso da acupuntura na Inglaterra (Hammerschlag e Wayne, 2020). Seus estudos de neuroimagem exploraram processos fisiológicos associados à acupuntura. O estudo Acupuncture Trialists’ Collaboration reuniu dados de pacientes individuais (n = ∼18.000) de 29 ensaios clínicos randomizados em larga escala de acupuntura para quatro tipos de dor crônica (Vickers et al, 2012; Vickers et al, 2018), demonstrando que a acupuntura tradicional superou a acupuntura simulada de maneira estatisticamente significativa (Hammerschlag e Wayne, 2020). Foi fundada por ele a Northern College of Acupuncture na década de 1980 e a instituição Foundation for Research into Traditional Chinese Medicine in 1993, além de validar em 1995 o primeiro curso de graduação em acupuntura (Hugh MacPherson Profile, 2010).

Outro pesquisador de grande expressão mundial é o chinês Prof. ZHENG Kui-Shan (Fang et al., 2007; Huang, 2021), famoso especialista em acupuntura e ciências da moxabustão, com experiencia em mais de 70 anos de tratamento clínico, estudos científicos e ensino. Ele defendeu e se dedicou aos estudos dos métodos tradicionais de agulhamento de acupuntura e moxabustão, com contribuições notáveis ​​para o desenvolvimento destas técnicas na clínica chinesa e mundial. Participou de estudos científicos, tratamentos clínicos e ensino de acupuntura e moxabustão na fase inicial de fundação da Academia Chinesa de Medicina Chinesa Tradicional. Ele primeiro defendeu e liderou “o estudo sobre a essência do canal”, estabeleceu o Departamento de Acupuntura e Moxabustão, Gansu College of Tradicional Chinese Medicine e Gansu Society of Zheng’s Needling Methods. As opiniões e práticas do professor Zheng, serviram de modelo para os estudos da acupuntura tradicional chinesa, moxabustão e métodos de agulhamento, de Acupuntura e moxabustão na China e no mundo (Fang et al., 2007; Huang, 2021).

 

Fitoterapia

O objetivo de todo tratamento na MTC é o restabelecimento da harmonia dos processos fisiológicos, removendo qualquer energia prejudicial à saúde e apoiando as forças de autoproteção e autocura do organismo (Maxion-Bergemann et al., 2006).

A fitoterapia chinesa é uma vertente da MTC que estuda drogas medicinais, as suas propriedades, os seus benefícios, a sua toxicidade e o seu modo de atuação. Tem como base a teoria de Yin Yang, a teoria dos 5 elementos, o sistema de meridianos, a farmacopeia, os métodos de tratamento baseado na utilização das plantas medicinais, catalogação das plantas utilizadas no tratamento e a organização das fórmulas herbáceas (Oliveira, 2016).

Para o processamento de remédios tradicionais chineses, uma multiplicidade de componentes vegetais e, em certa medida, minerais ou animais são usados. Na MTC, a fitoterapia constitui-se pela utilização destes insumos ativos, sendo vegetais ou não, incluindo-se, assim, os minerais e extraídos de animais para compor um fitoterápico (Fang et al., 2013). No Brasil, a fabricação e comercialização das fórmulas da MTC foi regulamentada pela determinação da ANVISA – RDC 21 de 25 de abril de 2014.

A Farmacopeia MTC descreve aproximadamente 8.000 medicamentos únicos, sendo 6-15 destes combinados, em sua maioria, em uma formulação (Maxion-Bergemann et al., 2006).  A terapia real depende do diagnóstico da MTC da doença, bem como sobre a constituição do paciente (Maxion-Bergemann et al., 2006).

Um fitoterápico normalmente tem cinco atributos: natureza, sabor, tropismo de canal, funções e indicações (Fang et al., 2013).  A natureza refere-se a uma característica básica baseada na reação do paciente a uma droga e possui quatro propriedades: gelado, frio, morno e quente; o sabor indica as ações de uma erva no corpo humano e inclui cinco caracteres: picante, azedo, doce, amargo e salgado; o tropismo de canal denota os efeitos terapêuticos seletivos de uma droga em uma determinada parte do corpo e inclui doze órgãos diferentes: coração, fígado, baço, pulmão, rim, estômago, intestino grosso, intestino delgado, bexiga, vesícula biliar, pericárdio, três aquecedores; funções significam os mecanismos dos efeitos terapêuticos (Fang et al., 2013). Por exemplo, uma erva comum é a “angélica chinesa”, que tem as funções de “harmonizar o sangue”, “regular a menstruação” e “umedecer os intestinos”; indicações descrevem as doenças ou sintomas tratados.

Várias drogas compõem uma fórmula na ordem de Mestre, Conselheiro, Soldado e Guilda, enquanto uma ordem posterior indica menos importância Fang et al., 2013). Na medicina ocidental o medicamento é composto por um princípio ativo e os excipientes, que são usados para veicular o princípio ativo e facilitar a sua ação no local alvo de tratamento. Na fitoterapia chinesa observa-se uma organização das fórmulas herbáceas de forma similar (Oliveira, 2016). Existe o Imperador (princípio ativo), responsável pela ação principal; o Ministro, o Assessor e o Coordenador, que no medicamento são excipientes e na fórmula têm várias ações: a potenciação do efeito desejado (o Ministro), diminuição da toxicidade de alguma droga (Assessor), dar as indicações para o local de ação (Coordenador) (Oliveira, 2016; Fang et al., 2013).

A Fitoterapia vem recebendo atenção do Governo Chinês, pois representa um nicho econômico importante, com crescimento anual de mercado de 5 a 15%, com exportação de produtos e drogas, se tornando uma nova fonte de crescimento da economia chinesa (Zu e Xia, 2019). Embora sua utilização em nível mundial tenha apresentado um crescimento nas últimas décadas, existem entraves que dificultam a expansão no mercado internacional. Barreiras políticas, regulações sanitárias, produção e exportação das drogas utilizadas na Fitoterapia Chinesa são alguns fatores que dificultam sua disseminação global (Lin et al., 2018).

Fontes:

  • Percepções de Corpo Identificadas entre Pacientes e Profissionais de Medicina Tradicional Chinesa do Centro de Saúde Escola do Butantã
  • Medicina Tradicional Chinesa
  • Embaixada da República Popular da China no Brasil
  • China Antiga
  • Unesco
  • Administração Estatal de Medicina Tradicional Chinesa da República Popular da China
  • Ventosaterapia – Revisão de Literatura
  • Moxabustão: Uma revisão da Literatura
  • Fitoterapia Chinesa – Breve Histórico de uso Complementar a Tratamentos de Saúde na Medicina Tradicional
  • Chinesa: Revisão Bibliográfica
  • Ministério da Saúde
  • Dietética Chinesa
  • Análise crítica das diretrizes de pesquisa em medicina chinesa
  • O caminho do retorno: envelhecer à maneira taoista
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