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Integração Médica com a Massoterapia Clássica

A Massoterapia Clássica, também chamada de Massagem Sueca, é considerada uma técnica convencional (TC) que integra o conjunto de terapias nos tratamentos fisioterapêuticos / fisiátricos / ortopédicos, que acrescentam uma opção relevante no plano terapêutico para os casos neuro-osteomusculares. A Medicina Integrativa (MI) busca inserir tal terapêutica convencional na interface no tratamento multifatorial do processo saúde-doença.

A Inserção da Massoterapia na Medicina Integrativa

A Medicina Integrativa viabiliza uma compreensão aos médicos e aos demais profissionais de saúde sobre a relevância da massoterapia como uma técnica convencional secular no tratamento das patologias neuro- osteomusculares, no controle da dor, com resultados através de seus efeitos mecânicos e fisiológicos. A integração dessa TC pela MI na contemporaneidade vem demonstrando a sua versatilidade junto aos tratamentos psicoterapêuticos quando se busca o relaxamento físico, psíquico e emocional no combate do estresse, sempre baseado no diagnóstico nosológico médico, psicológico e cinesiológico. O modelo integrativo inclui a Massoterapia Clássica como mais um recurso aos profissionais de saúde no encaminhamento e na prática clinica dessa técnica convencional.

Integração Médica com a Massoterapia Clássica

A Massagem Clássica ou Massagem Sueca, surgiu em meados do século XIX, desenvolvida pelo sueco Per Henrik Ling, um dos pioneiros da educação física contemporânea. Derivada de antigas civilizações como Grécia, Roma e China, a Massagem Sueca é definida como um conjunto de manobras e/ou manipulações manuais aplicadas ao corpo humano com objetivos preventivos, terapêuticos e reabilitadores, realizada de maneira metódica, ordenada e racional (Cassar, 2001).

Proporciona benefícios físicos como relaxamento muscular, redução da dor, liberação tecidual, melhora da amplitude de movimento e vascularização, assim como benefícios mentais como melhora do estado emocional, alívio de tensão psicológica e ansiedade, humor e bem-estar, favorecendo a promoção da saúde e qualidade de vida (Zhou et al., 2020). Sua metodologia inclui as manobras de effleurage (deslizamento), pétrissage (compressão), tapotement (percussão repetitiva e rítmica), vibração, fricção, rolamento e alongamento, com pressão leve a moderada, sendo a base de todas as massagens ocidentais (Cassar, 2001; Butterfield et al., 2008).

A Massagem ganhou especificidade junto aos trabalhos do médico Dr. James Cyriax que desenvolveu a Massagem Transversa Profunda conhecida como “Método de Cyriax”. Tal técnica e sua semiótica contribuiu na terapêutica utilizada nos tratamentos ortopédicos fisiátricos e na reabilitação de forma geral (Cassar, 2001; Butterfield et al. 2008). Em sua técnica de massagem por fricção transversal, a massagem sobre uma área de trauma ou inflamação tem por objetivo reduzir aderências e evitar a formação de tecido cicatricial, atuando no tecido fibroso dos músculos, tendões e ligamentos, restaurando a mobilidade dos músculos e atuando como forma de prevenção de uma futura lesão, visando reestruturação dos tecidos, aumento da circulação e analgesia temporária. Como hipótese ao mecanismo de alívio da dor secundário à Massagem pode ser devido à modulação de impulsos nociceptivos em nível da medula espinhal – teoria de portal da dor (Cassar, 2001; Chamberlain, 1982).

As práticas apoiadas na educação interprofissional vão de encontro a política pública de saúde do país no que concerne a universalidade do acesso, integralidade, participação social e a atenção básica à saúde como ordenadora do cuidado (Câmara et al., 2016). As iniciativas para estabelecimento de uma rede colaborativa interdisciplinar de profissionais e estudantes podem trazer contribuições para avançar no compartilhamento de conceitos e terminologias (Câmara et al., 2016). Nesse sentido, a Massoterapia apresenta-se como terapia multidisciplinar, com aplicabilidade em vários cenários, de baixo custo e que traz benefícios a curto prazo para promoção de qualidade de vida.

No Brasil, a Massoterapia é uma disciplina e uma técnica na formação básica da Fisioterapia que realiza suas interfaces com as mais diversas especialidades médicas de forma interdisciplinar e integrativa nos tratamentos neuro-musculoesqueléticos. A profissão de Massagista é reconhecida desde 1945, pelo Decreto-Lei n° 8345, que dispões sobre a habilitação para exercício profissional do Massagista e Lei Federal n° 3.968 de 1961 que dispõe sobre o exercício da profissão. A Massoterapia clínica é exercida de forma multidisciplinar, servindo de orientação e apoiando equipes médicas e multidisciplinares. Entretanto, até o momento, não é obrigatório que aquele que exerce a atividade tenha curso superior.

Em 2016, foi debatida a PLS 13/2016 em audiência pública promovida pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado, cujo texto decorria sobre a regulamentação do exercício da profissão de massoterapeuta. Para discussão sobre o tema, representantes dos massoterapeutas, dos fisioterapeutas e dos médicos avaliaram o projeto e as repercussões junto à sociedade e às categorias. Em consenso, o grupo optou pela revisão do material e adequação do texto, visando, assim, respeitar as particularidades e leis de cada área, contando com profissionais representantes da Fisioterapia, da Massoterapia e da Medicina (COFFITO, 2017). Atualmente, o projeto de Lei está com tramitação suspensa no Senado Federal, no aguardo de parecer da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) sobre sua constitucionalidade, legalidade e tramitação legislativa (Senado notícias, 2018).

No país, existem algumas associações, como a Associação Brasileira de Massoterapia Clínica (ABRAMC) no Rio de Janeiro, a ASTMEAP – Associação de Técnicos de Massoterapia do Estado do Amapá e a AAMA  – Associação Amazonense de Massoterapia, que juntas criaram a  FMB – Federação dos Massoterapeutas do Brasil, para representar a profissão internacionalmente e lutar pelo reconhecimento da profissão.

Nos Estados Unidos, a AMTA (American Massage Therapy Association) promove os benefícios da Massoterapia ao público em geral e defende a categoria e campo de atuação.

A implantação de centros de cuidado integrativo expande a gama de ferramentas disponíveis para prevenção e tratamento de diversas condições, com boa adesão pelos pacientes (Kearney et al., 2007; Kilper et al., 2020). As práticas complementares mostram-se particularmente úteis no campo da reabilitação ortopédica e Fisiatria (Kearney et al., 2007). Estudos têm demonstrado bons resultados da Massoterapia na recuperação de sequelas de pacientes em recuperação de derrames (Cabanas-Valdés et al., 2021); dores neuropáticas em decorrência de traumas na medula espinal (Tsai et al., 2021), dores crônicas (Da Rocha Rodrigues et al., 2021), recuperação após exercício intenso (Corum et al., 2021), citando somente alguns casos entre uma variedade imensa de aplicações.

A Massoterapia vem sendo estudada de forma frequente para manejo de distúrbios advindos de manifestações psicossomáticas, como ansiedade (Baek et al., 2022), depressão (Müller-Oerlinghausen et al., 2022), enxaqueca (Jung et al., 2021) e distúrbios do sono (Hsu et al., 2019), entre outros.

Embora vislumbre-se uma infinidade de aplicações, políticas de implementação e desenvolvimento da Massoterapia ainda são frágeis, em uma perspectiva global. O envolvimento de organizações profissionais, inter-relacionamento entre pesquisadores e praticantes da Massoterapia, maior aporte financeiro para pesquisas para comprovação de seus efeitos são fatores que podem engajar e encorajar os profissionais para a aplicação desta modalidade terapêutica (Zabel, Munk, 2020).

Referências:

  • Alves M, Moura W. A MASSOTERAPIA termo este definido e sistematizado por Massagistas no ano de 1980.2003. Disponível em: < https://www.sinaten.com.br/paginas/artigos/ler_artigo.php?codigo=30>. Acesso em: 05 nov 2021.
  • Baek JY, Lee E, Gil B, Jung HW, Jang IY. Clinical effects of using a massage chair on stress measures in adults: A pilot randomized controlled trial. Complement Ther Med. 66:102825, 2022.
  • Butterfield TA, Zhao Y, Agarwal S, Haq F, Best TM. Cyclic compressive loading facilitates recovery after eccentric exercise. Med Sci Sports Exerc. 40(7):1289-1296, 2008.
  • Cabanas-Valdés R, Calvo-Sanz J, Serra-Llobet P, Alcoba-Kait J, González-Rueda V, Rodríguez-Rubio PR. The Effectiveness of Massage Therapy for Improving Sequelae in Post-Stroke Survivors. A Systematic Review and Meta-Analysis. Int J Environ Res Public Health. 21;18(9):4424, 2021.
  • Câmara AMCS, Cyrino AP, Cyrino EG, Azevedo GD, da Costa MV, Bellini MIB, Peduzzi M, Batista NA, Batista SHSS, Reeves S. Interprofessional education in Brazil: building synergic networks of educational and healthcare processes. Interface – Comunicação, Saúde, Educação 20(56): 5-8, 2016.
  • Cassar MP. Manual de Massagem Terapêutica. 1° Edição. Barueri: Editora Manole, 2001, 252 p.
  • Chamberlain G. Cyriax’s friction massage: a review. J Orthop Sports Phys Ther 4:16–22, 1982.
  • COFFITO. Projeto de Lei da Massoterapia será revisado e estudado por grupo multiprofissional. 2017. Disponível em: https://www.coffito.gov.br/nsite/?p=6817. Acesso em: 25 abr 2022.
  • Corum M, Aydin T, Medin Ceylan C, Kesiktas FN. The comparative effects of spinal manipulation, myofascial release and exercise in tension-type headache patients with neck pain: A randomized controlled trial. Complement Ther Clin Pract. 43:101319, 2021.
  • Da Rocha Rodrigues MG, Bollondi Pauly C, Thentz C, Boegli M, Curtin F, Luthy C, Cedraschi C, Desmeules J. Impacts of Touch massage on the experience of patients with chronic pain: A protocol for a mixed method study. Complement Ther Clin Pract. 43:101276, 2021.
  • Hsu WC, Guo SE, Chang CH. Back massage intervention for improving health and sleep quality among intensive care unit patients. Nurs Crit Care. 24(5):313-319, 2019.
  • Jung A, Eschke RC, Gabler T, Pawlowsky V, Luedtke K. Effektivität physiotherapeutischer Behandlungsmaßnahmen in Bezug auf die Schmerzintensität, -dauer und -frequenz sowie Lebensqualität von Patient*innen mit Migräne : Eine systematische Übersichtsarbeit [Effectiveness of physiotherapeutic treatment interventions on pain intensity, duration, frequency, and quality of life of patients with migraine : A systematic review]. Schmerz. 2021 Dec 22.
  • Kearney G, Cioppa-Mosca J, Peterson MG, MacKenzie CR. Physical therapy and complementary and alternative medicine: an educational tool for enhancing integration. HSS J.3(2):198-201, 2007.
  • Kilper A, Müller A, Huber R, Reimers N, Schütz L, Lederer AK. Complementary medicine in orthopaedic and trauma surgery: a cross-sectional survey on usage and needs. BMJ Open. 10(9):e037192, 2020.
  • Müller-Oerlinghausen B, Eggart M, Norholt H, Gerlach M, Kiebgis GM, Arnold MM, Moberg KU. Berührungsmedizin – ein komplementärer therapeutischer Ansatz unter besonderer Berücksichtigung der Depressionsbehandlung [Touch Medicine – a complementary therapeutic approach exemplified by the treatment of depression]. Dtsch Med Wochenschr. 147(4):e32-e40, 2022.
  • Senado notícias. Projetos que regulam profissões aguardam parecer de comissão. 2018. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2018/07/20/projetos-que-regulam-profissoes-aguardam-parecer-de-comissao. Acesso em: 25 abr 2022.
  • Tsai CY, Bryce TN, Delgado AD, Mulroy S, Maclntyre B, Charlifue S, Felix ER. Treatments that are perceived to be helpful for non-neuropathic pain after traumatic spinal cord injury: a multicenter cross-sectional survey. Spinal Cord. 59(5):520-528, 2021.
  • Zabel S, Munk N. Practice-Based Research Networks and Massage Therapy: a Scoping Review. Int J Ther Massage Bodywork. 13(4):25-34, 2020.
  • Zhou KL, Dong S, Wang K, Fu GB, Cui SS, Guo S. Clinical massage therapy for patients with exercise-induced fatigue: A protocol for systematic review and meta analysis. Medicine (Baltimore) 99(26): e20870, 2020.