A Imposição de Mãos é classificada pela Medicina Integrativa (MI) como uma Prática Complementar de Bem Estar (PCBE), que procura, por meio do toque, gerar benefícios de bem-estar físico e emocional. Essa prática não apresenta relevância científica em ação isolada dos tratamentos convencionais. Por sua vez, a MI identifica que os efeitos da prática demonstram sensação de “bem-estar”, sendo assim relevantes no contexto de qualidade de vida e saúde.
A Inserção da Imposição de Mãos na Medicina Integrativa
A Imposição de Mãos e o Toque Terapêutico são integrados à MI como PCBEs, que buscam gerar uma atenção terapêutica plena de bem-estar, facilitando o autocuidado e a conscientização da corresponsabilidade aos tratamentos. Essas práticas não possuem evidências sólidas científicas que promovam alterações fisiológicas significativas e mensuráveis. Mas isso não inviabiliza os efeitos de “bem-estar” aos afeitos.
A MI ratifica em seus conceitos de que não existe terapia inócua ao paciente e de que a aplicação de qualquer técnica convencional, associada a demais técnicas e práticas, deve possuir um diagnóstico nosológico médico. A SBMI entende a necessidade de formação técnica profissional para o discernimento da indicação, aplicação, encaminhamento e evolução clínica, na utilização das técnicas e praticas no modelo integrativo, resguardando, assim, possíveis agravos clínicos e os riscos físicos e psíquicos do uso inadequado das terapias.
Integração Médica com a Imposição de Mãos
As técnicas de imposição de mãos ou impostação de mãos são Práticas Integrativas e Complementares (PIC) que visam o reequilíbrio e harmonização do sistema energético do ser humano (Mourão, Barros, 2015).
Ao longo da história, as técnicas de imposição de mãos são retratadas em diversas culturas, em épocas anteriores a Cristo. Referências sobre estas práticas são encontradas no antigo testamento e em outras diversas passagens bíblicas e em outros inscritos sagrados orientais (Oliveira, 2003).
Dentre as técnicas de impostação de mãos ou imposição de mãos pode-se citar o Toque Terapêutico (TT), Reiki, Jin Shin Jyutsu, Johrei, Qi Gong e Toque de Cura (TC) como as práticas mais conhecidas (Oliveira, 2003). Todas têm como base o paradigma holístico que considera o ser humano como um todo (corpo, mente e espírito), indivisível e formado por energia condensada e em constante interação com a energia do universo, sendo a doença o resultado do desequilíbrio das relações energéticas entre corpo, mente e ambiente (Strombech, 2003). Estas teorias corroboram a crença de que o campo energético pode ser reorientado ou reforçado para promover ou recuperar a saúde através da imposição intencional das mãos de um terapeuta, rearmonizando o “Campo Energético ou Fluídos Vitais” e que esta capacidade de intervenção é inata a todos os seres humanos (Strombech, 2003).
Nesse contexto, surge a teoria do biocampo, um campo eletromagnético complexo e extremamente fraco do organismo, sendo uma construção útil consistente com o bioeletromagnético e a física de sistemas vivos. A hipótese é que existe um biocampo composto pela propagação de sinais de campos eletromagnéticos, cuja bioinformação eletromagnética regula a homeodinâmica. Assim, o estudo da interação de objetos ou campos com o organismo consiste na base científica para a compreensão da medicina energética, incluindo acupuntura, terapias de biocampo, terapias bioeletromagnéticas e homeopatia (Rubik, 2002).
Sabe-se que, além dos componentes eletromagnéticos do biocampo emitidos pelo cérebro (EEG) e pelo coração (ECG), conhecidos na medicina convencional (Rubik et al.; 2015), o biocampo humano também pode incluir campos fracos de energia, cuja modulação é realizada por certos tratamentos não convencionais (Gaspary, 2020). O mecanismo pelo qual a terapia de biocampo atua é desconhecido, sendo investigadas as propriedades do campo eletromagnético gerados pela eletricidade e magnetismo, som, pH e luz (Kent, Jin, Li, 2020). A emissão de biofótons ou radiação de fótons gerada a partir do armazenamento de energia endógena celular é um exemplo de energia fraca, sendo gerada espontaneamente ou induzida. A indução é tipicamente causada por estresse no organismo ou célula por fatores como infecção, estresse mecânico e radiação ionizante (Kent, Jin, Li, 2020).
Além da modulação do biocampo, o toque tradicionalmente é uma das formas mais relevantes na comunicação humana não verbal, permitindo transmitir sentimentos positivos ou negativos, sensação de acolhimento, podendo atenuar o medo e minimizar a ansiedade, proporcionando bem-estar físico e psicoemocional. As técnicas de imposição de mãos são utilizadas, principalmente, como terapia complementar em desordens de ansiedade (Robinson, Biley, Dolk, 2007), de dor e de estresse (Anderson,Taylor, 2012; Jain, Mills, 2010)
As diferentes técnicas de imposição de mãos produzem relaxamento, praticamente sem registros de contraindicações e baixo custo de aplicação (Mourão, Barros, 2015). Assim, a imposição de mãos de forma contemporânea e atual, se faz presente nos cuidados relacionados aos aspectos comportamentais, emocionais, espirituais, mentais e físicos, vinculados ao eustress e distress (Franklin 2007; Mourão, Barros, 2015). Colaboram com a integralidade do cuidado do ser humano de maneira multidimensional, com uma abordagem centrada no paciente, considerando dimensões que vão além do biológico, como o campo de energia (Mourão, Barros, 2015).
A Ph.D. em Biofísica pela University of California, Dra. Beverly Rubik, é referência internacional em pesquisas médicas focadas em energia sutil dos sistemas vivos, abrangendo o campo da energia humana e a influência do trinômio corpo- mente-espírito na saúde. Dra. Rubik evidenciou em seus trabalhos o risco de esgotamento físico e psíquico devido ao elevado nível de estresse cotidiano, ou Burnout, um problema que envolve exaustão emocional, despersonalização e redução da realização pessoal. Ela demonstrou que a imposição de mãos como terapia mobilizadora da energia presente no biocampo beneficia a redução do nível de estresse (Rosada et al., 2015).
No Brasil, a Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) possuem algumas linhas de pesquisas sobre PCBE de imposição de mãos. Também existem alguns grupos de estudos no Hospital das Clínicas da USP e no Hospital São Paulo – UNIFESP (Messias, 2018).
Na escola de Enfermagem da USP São Paulo, o Toque Terapêutico foi apresentado em um curso extracurricular, voltado para graduandos e graduados em enfermagem, discutindo e praticando a imposição de mãos (Silva, Belasco Júnior, 1996). A técnica é apresentada em disciplinas de Terapias Complementares ou Terapias Naturais, sem obrigatoriedade. No Canadá, o curso de TT é parte integrante da disciplina de Avaliação Clínica na maioria das faculdades de enfermagem (Messias, 2018).
O médico Dr. Tomás Navarro Rodriguez, do Serviço de Gastroenterologia Clínica do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da USP, demonstrou resultados promissores com o Johrei. No seu estudo, ele avaliou a adoção do Johrei para controle da dor torácica não cardíaca, verificando melhora de 90% no grupo que recebeu aplicação da técnica; o que não recebeu não teve melhora significativa (Gasiorowska et al., 2008).
A imposição de mãos, prática complementar de bem-estar (PCBE), vem demonstrando resultados terapêuticos promovidos por alterações psicofisiológicas por meio da promoção de um estado de relaxamento e atenção plena que corrobora com a redução dos níveis de ansiedade, estresse e nos casos de depressão leve, amplificando a sensação de bem-estar pelos submetidos a esta prática terapêutica (Mourão, Barros, 2015).
Referências:
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- Gasiorowska A, Navarro-Rodriguez T, Dickman R,Wendel C, Moty B, Powers J, Willis MR, Koenig K, Ibuki Y, Thai H, Fass R. Clinical trial: the effect of Johrei on symptoms of patients with functional chest pain. Aliment Pharmacol Ther. 29(1):126-34, 2008.
- Gaspary, JFP. Experiência Projetual do AuBento: um dispositivo multiuso que utiliza solução coloidal aquosa para Aplicação Biomédica de Campos e Fluidos Magnéticos. Tese, Mestrado Profissional. 226 f. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Programa de Pós-graduação em Pesquisa Clínica. Porto Alegre, 2020.
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- Kent JB, Jin L, Li XJ. Quantifying Biofield Therapy through Biophoton Emission in a Cellular Model. J Sci Explor. 4(3):434-454, 2020.
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