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Aromaterapia

A Medicina Integrativa (MI) classifica a Aromaterapia como uma Prática Complementar de Bem-Estar (PCBE), uma vez que esta técnica não possui fundamentos científicos, baseados nas metodologias clássicas e utilizadas atualmente pela ciência contemporânea. Esta PCBE utiliza óleos essenciais e fragrâncias, com a intenção de promover o “bem-estar físico e psicológico”, auxiliando no tratamento, mas não sendo fundamental para eficácia do mesmo.

A Inserção da Aromaterapia na Medicina Integrativa

A Aromaterapia em sua PCBE pode ser compreendida pela MI como uma prática empregada em diferentes contextos ambientais, com a finalidade de arejar e auxiliar no clima de limpeza e bem estar, com a intenção de favorecer a sensação de descanso, relaxamento, excitação e prazer. Com isso, a MI entende que para a utilização dos óleos essenciais e suas fragrâncias, se faz necessária a formação dos profissionais para o discernimento orientativo e informativo ao paciente sobre o “bem estar”, os riscos e os possíveis agravos à saúde no uso demasiado ou indevido destas substâncias.

A MI preza pelo diagnóstico nosológico médico e a utilização de terapias consagradas e reconhecidas para elaboração dos planos terapêuticos. Dessa forma, identifica essa PCBE, não como uma terapia, e sim como um recurso que auxilia o “bem estar”, durante o tratamento do paciente.

Integração Médica com a Aromaterapia

A Aromaterapia pode ser definida como o uso intencional de Óleos Essenciais (OE) a fim de promover ou melhorar a saúde, o bem-estar e a higiene (Gnatta et al., 2016). O termo “Aromaterapia” foi utilizado pela primeira vez em 1928 pelo perfumista francês René Maurice Gattefossé, que, em seus estudos iniciais com OE para aplicação em perfumes, teria passado por um incidente de trabalho. Após uma queimadura nas mãos durante um processo de destilação no laboratório, e sentindo dor, mergulhou a área afetada em um frasco próximo que continha óleo de lavanda. Ele teria percebido que, além do alívio quase imediato da sensação dolorosa, o ferimento cicatrizou mais rapidamente, sem quase deixar marcas (Gnatta et al., 2016).

Fragrâncias são utilizadas como terapias há séculos em várias culturas, buscando pelo uso óleos aromáticos de plantas a “cura” dos mais diversos males. A medicina tradicional Ayurveda apresenta os mais antigos relatos sobre a utilização de óleos aromáticos em suas práticas terapêuticas. Registros no século XIV na Europa demonstram a utilização desta técnica e suas propriedades anti-sépticas no combate das pragas (Brito et al.,2013).

Durante a segunda guerra mundial, o médico francês Jean Valnet, imerso a um universo restrito de terapêuticas utilizou de óleos essenciais como antibióticos naturais em soldados feridos, demonstrando eficácias em alguns processos infecciosos. Seus relatos se encontram no livro L’Aromatherapie (1964), que se tornou uma obra de referência na história da Aromoterapia (Brito et al.,2013).

A aromaterapeuta de maior destaque neste período foi a enfermeira Marguerite Maury (1895-1968), pelas técnicas de massagem que utilizavam Aromoterapia nos processos terapêuticos e no desenvolvimento de blends de óleos essenciais para as mais diversas aplicações, divulgando seu trabalho em toda a Europa, com abertura de clínicas de Aromaterapia em Paris, Suíça e Inglaterra (Brito et al.,2013).

Os métodos de aplicação na prática desta técnica são: pulverização e difusão aérea, inalação, compressas, banhos e massagens. Os OE utilizados na técnica são oriundos de sementes, frutos folhas, cascas dos frutos, espinhos, pétalas, resinas, caules, raízes e rizomas (Farrar, Farrar, 2020).  A utilização da técnica é variada, com efeitos positivos em ansiedade, na promoção de bem-estar a pacientes oncológicos, em unidades de terapia intensiva e no pós-operatório de cirurgias cardíacas, melhora do desconforto no períneo em pós-parto, profilaxia de bronquite, controle de ansiedade, estresse, entre outros (Cooke, Ernst. 2000).

No país, verifica-se a avaliação pré-clínica, clínica e revisões sistemáticas. Estudos sobre a complexidade destas substâncias aromáticas e sua aplicação são linhas de pesquisas desenvolvidas na Universidade de São Paulo (USP) (Peniche, 2016).  Há relatada em literatura a mensuração de eficácia clínica das ações de OE para manejo de condições variadas, como abstinência em usuários de crack (Araújo, 2019), alívio da dor em atletas de alto rendimento (Peniche, 2016), dor e ansiedade durante o parto (Nascimento, 2019), entre alguns exemplos.

Em alguns centros de atendimento, a terapia é oferecida à população gratuitamente. Em Botucatu, há uma parceria entre o Pronto-Socorro Adulto (PSA), de gestão pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB), e o Instituto CUIDA, em que pacientes em risco de suicídio do PSA são encaminhados para atendimento no CUIDA, que realiza o acolhimento e o tratamento com as práticas integrativas e avaliação interdisciplinar periódica além de direcionar os pacientes para manterem o tratamento convencional na rede básica que são realizados no posto de saúde e nos CAPES (Portal do governo de SP, 2021).

Na cidade de São Paulo, existem Centros de Práticas Naturais voltadas para o atendimento de práticas Integrativas e Complementares (PICs) que são mantidos pela prefeitura, com disponibilidade da Aromaterapia nos centros de Guaianases e em Ermelino Matarazzo (Cidade de São Paulo Saúde, 2021). No Centro de Reabilitação Hospital-Dia (CRHD) do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), coordenado pela enfermeira e Prof. Dra.  Maria Aparecida das Neves, são atendidos pacientes com transtornos mentais graves.

Em Vera Cruz, no Rio Grande do Sul, a Aromaterapia é oferecida como alternativa no Posto de Saúde Central. É disponibilizada também no Programa Farmácia Viva de São Bento do Sul (SC), coordenado pela farmacêutica fitoterapeuta clínica e aromaterapeuta Ana Carla Prade no Centro Municipal de Práticas Integrativas.

Em Currais Novos – RN, as atividades inseridas dentro das PNPICs são oferecidas no CAPS Maria Vênus Cunha foram implementadas e oferecidas a pacientes com necessidade de assistência psicossocial. A iniciativa tem se mostrado benéfica como opção terapêutica eficaz e de baixo custo, com boa adesão e integração positiva dos usuários, com relatos de eficácia referentes à diminuição da ansiedade, do estresse, da fadiga e dos efeitos colaterais de medicamentos alopáticos tradicionalmente utilizados (da Silva et al., 2019).

No Brasil, a Associação Brasileira de Aromaterapia e Aromatologia (ABRAROMA) e Aromaflora (Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Aromaterapia) são referência em formação e divulgação desta prática complementar de bem-estar (PCBE). A Aromaterapia é uma PIC não regulamentada como profissão e que não dispõe de nenhum órgão fiscalizador (Gnatta et al., 2016).

O uso desta prática complementar de bem-estar (PCBE) deve ser orientado por profissionais habilitados com conhecimento técnico e ético.

Existem profissionais das mais diversas formações atuando como aromaterapeutas. Em São Paulo, cita-se o trabalho da enfermeira e professora Elisabete Napoleão Silva, da aromaterapeuta Fátima Faxini Freguglia e a psicóloga Maria Aparecida das Neves, profissional que há mais de 20 anos trabalha na área através do ensino e representatividade da empresa Tisserand no Brasil, especializada em óleos essenciais e Florais de Bach. Também coordena o Grupo Essence, que comercializa OE e Florais de Bach e disponibiliza treinamentos na área. A goiana Vishwa Schoppan é bióloga, sendo uma das primeiras profissionais a receber o selo CertAroma da instituição Abraroma, sendo co-fundadora e responsável técnica da Terra Flor Aromaterapia.

No exterior, a Aromaterapia consolidou-se como ciência na Inglaterra e na França. Para os franceses é considerada uma especialidade médica, já os ingleses a entendem como Práticas Integrativas e Complementares (PIC). É uma prática também utilizada nos Estados Unidos e na Austrália como complementar, e, culturalmente, empregada em países do Oriente como parte da Medicina Tradicional (Gnatta et al., 2016). Entre as instituições internacionais de destaque, encontram-se a AIRASE (Association for the International Research of Aromatic Science and Education, The Center for Aromatherapy Research and Education, Inc. (CARE), Alliance of International Aromatherapists (AIA), The International Aromatherapy and Aromatic Medicine Association (IAAMA) e The International Federation of Aromatherapists (IFA).

Como aromaterapeutas reconhecidos internacionalmente destacam-se os nomes de Gabriel Mojay e Thimoty Miler. Gabriel Mojay é da Inglaterra, com livro publicado na área: “Aromatherapy for Healing the Spirit”, em que são descritas abordagens sistêmicas de aplicação dos óleos essenciais nas práticas da Medicina Oriental. Gabriel é co-fundador da da IFPA (International Federation of Professional Aromatherapists) e CEO do The Institute of Traditional Herbal Medicine and Aromatherapy. Em contrapartida, o médico aromaterapeuta Dr. Thimoty Miler é membro das instituições Aromatherapy Registration Council (ARC) e National Association of Holistic Aromatherapy (NAHA), com experiência docente reconhecida internacionalmente.

Outro profissional conhecido na área é o Prof. Dr. Paul Anderson, que apresenta pesquisas e livros publicados sobre a aplicação de Terapias Integrativas nos cuidados a pacientes oncológicos, com patologias crônicas e em doenças infecciosas, destacando-se o livro “Outside the Box Cancer Therapies”.

O saudoso Dr. David Stewart foi co-fundador da of the InterNational Association of Parents & Professionals for Safe Alternatives in Childbirth (NAPSAC International) no qual publicou uma série de livros sobre parto e tópicos relacionados e em 2001 fundou a CARE (The Center for Aromatherapy Research and Education), organização educacional dedicada a reunir pesquisas e divulgar informações sobre as propriedades curativas e aplicações terapêuticas dos OE, por meio de patrocínio de seminários, workshops práticos e a publicação de livros e outros materiais. Muito estudioso, tinha vários cursos no currículo, entre eles um doutorado com um discurso matemático sobre modos vibracionais e análise espectral de frequências em matéria sólida aplicando o cálculo tensorial tridimensional desenvolvido por Albert Einstein. Com mais de 300 publicações, entre livros e co-autoria de trabalhos científicos, formou-se em Aromaterapia, ministrando cursos sobre Química e Ciência dos Óleos Essenciais, tendo 3 livros publicados sobre o tema: Chemistry of Essential Oils Made Simple (God’s Love Manifest in Molecules), Healing Oils of the Bible e A Statistical Validation of Raindrop Technique (CARE, 2016).

Referências:

  • Brito AMG, Rodrigues SA, Brito RG, Xavier-Filho L. Aromaterapia: da gênese a atualidade. Rev. Bras.Plantas Med. 15(4): suppl.1, 789-793, 2013.
  • CARE – CARE’s founders, Dr. David and Lee Stewart, 2016. Disponível em: < http://www.raindroptraining.com/care/stewart.shtml>. Acesso em: 04 mai 2022.
  • Cooke BB, Ernst E. Aromatherapy: a systematic review. British Journal of General Practice (50): 493–496, 2000.
  • Farrar AJ, Farrar FC. Clinical Aromatherapy. Nurs Clin North Am. 55(4): 489-504, 2020.
  • Gnatta JR, Leonice Fumiko Sato Kurebayashi LFS, Turrini RNT, da Silva MJP. Aromatherapy and nursing: historical and theoretical conception. Revista da Escola de Enfermagem da USP 50(1): 127-133, 2016.
  • Lyra CS, de Nakai LS, Marques AP. Eficácia da aromaterapia na redução de níveis de estresse e ansiedade em alunos de graduação da área da saúde: estudo preliminar. Fisioterapia E Pesquisa, 17(1), 13-17, 2010.
  • Peniche GG. Efeito da aromaterapia no alívio da dor em atletas de alto rendimento: estudo piloto. 2016. Dissertação (Mestrado em Enfermagem na Saúde do Adulto) – Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016. Disponível em:https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/7/7139/tde-15052017-150131/pt-br.php. Acesso em: 07 nov 2021.
  • Portaria nº 702 de 21 de março de 2018. (2018). Altera a Portaria de Consolidação nº 2/GM/MS, de 28 de setembro de 2017, para incluir novas práticas na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares-PNPIC. Brasília, DF: Ministério da Saúde.
  • Araújo PRS. Efeito do óleo essencial de Citrus aurantium dulcis sobre o craving em usuários de crack em estado de abstinência. Dissertação (Mestrado). 108f.
    Programa de Pós-Graduação em Neurociência Cognitiva e Comportamento
    , Universidade Federal da Paraíba, 2019.
  • Nascimento JC. Efetividade da aromaterapia sobre condições álgicas e do óleo de laranja doce (Citrus sinensis L.) no alívio da dor e ansiedade durante o parto. Dissertação (Mestrado).124 f. Programa de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à Saúde (PPGCAS), Universidade Federal de Sergipe – UFS, 2019.
  • Lucena LR. efeitos do óleo essencial de lavanda na qualidade de sono em mulheres na pós-menopausa com insônia. Dissertação (Mestrado). 94 f. Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia, Universidade Federal de São Paulo, 2020).
  • Portal do Governo. HC Botucatu firma parceria com foco na saúde mental, 2021. Disponível em: < https://www.saopaulo.sp.gov.br/ultimas-noticias/saude/hc-botucatu-firma-parceria-com-foco-na-saude-mental/>. Acesso em: 04 mai 2022.
  • Cidade de São Paulo Saúde. Centros de Práticas Naturais (CPN). Disponível em: <Centros de Práticas Naturais (CPN)>. Acesso em: 04 mai 2022.
  • Brito RCS, Ataíde CAV, Pinheiro EMN, Silva RTO, de Medeiros SCQ, Galvão MA. Práticas integrativas e complementares: ampliando o cuidado em saúde no Centro de Atenção Psicossocial de Currais Novos/RN. IN: ANAIS DO 8º CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS EM SAÚDE, 2019, João Pessoa. Campinas, Galoá, 2019. Disponível em: <https://proceedings.science/8o-cbcshs/papers/praticas-integrativas-e-complementares–ampliando-o-cuidado-em-saude-no-centro-de-atencao-psicossocial-de-currais-novos->. Acesso em: 04 Mai 2022.