De uma forma geral, percebe-se que o entendimento sobre a Medicina Integrativa no Brasil ainda é carente. O conceito e aplicação da terapêutica integrativa está aquém do ideal mesmo entre os profissionais da área da saúde.
A busca por práticas complementares e alternativas de modelos de saúde e sua aplicação em processos de saúde-doença leva ao entendimento errôneo de que as técnicas aplicadas incorrem em modelos holísticos somente, em que o “alternativo” confunde-se com uma contra-cultura da terapêutica convencional, beirando ao charlatanismo. Muito pelo contrário, a Medicina Integrativa é área de abordagem sistêmica, buscando integrar as diversas técnicas terapêuticas utilizadas na Medicina Convencional, Tradicional, Não-convencional e de Práticas Complementares de Bem-estar, por profissionais preparados e com a capacitação necessária para a correta aplicação de cada técnica e de conhecimento de todas as interfaces, com lógica clínica para condução dos tratamentos.
O movimento de busca de práticas alternativas e não-convencionais é uma vertente crescente, que busca no tratamento o preenchimento de um vazio deixado na Medicina Convencional: da prática humanizada e de modelos terapêuticos individualizados, de acordo com o estilo de vida, crenças e perspectivas sócio-econômicas e culturais do indivíduo. A insatisfação com a organização do atual sistema de saúde, a fragmentação do cuidado, o desejo de tratamentos mais suaves e com menos riscos de efeitos adversos, com a valorização do relacionamento médico-paciente e da comunicação, a consideração da pessoa de forma integral, a utilização de evidências e o enfoque na saúde, na cura e na prevenção de doenças são fatores motivadores da busca dos pacientes pela integralidade da prevenção e tratamento (Otani e Barros, 2011).
Tal vertente tornou-se explícita com a aprovação em 2006 da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS, evidenciando a necessidade de regularização e embasamento para a prática das diversas modalidades terapêuticas pelos profissionais de saúde.
Embora tenha emergido inicialmente nos EUA e no Reino Unido, a Medicina Integrativa se espalhou para outros países como uma “consequência dos fluxos culturais transnacionais”, reconhecendo o papel que diversas terapias podem desempenhar no cuidado com o paciente (Templeman e Robinson, 2011). A Medicina Integrativa leva em consideração para o tratamento meios espirituais, emocionais, mentais e ambientais, além dos meios físicos. (Gannota et al., 2018). O princípio geral é que todos os aspectos do paciente são considerados no tratamento da doença, que incluem alternativas naturais e menos invasivas quando possível. O paciente e o profissional de saúde formam uma parceria que permite uma abordagem holística que inclua crenças, bem-estar geral e comunidade para a cura da mente e do corpo. Técnicas específicas podem ser utilizadas, podendo envolver qualquer tratamento eficaz fora da metodologia convencional (Gannota et al., 2018).
A medicina integrativa é um sistema de atenção primária abrangente que enfatiza o bem-estar e a cura da pessoa em dimensões biopsíquica-socio-espirituais como objetivos principais, além da supressão de uma doença somática específica. De forma ideal, o paciente e o praticantes da Medicina Integrativa são parceiros no esforço de desenvolver e implementar um plano de tratamento abrangente para questões que vão muito além do diagnóstico e tratamento conventional (Bell et al., 2002).
No entanto, nem todos os tratamentos ainda estão enraizados na descoberta e investigação científica de sua eficácia, o que pode trazer certa polêmica em sua utilização (Gannota et al., 2018). O debate maior tem se voltado para a legitimidade do na atenção à saúde em relação a questões de segurança e eficácia, além da aceitação de um novo modelo de atenção à saúde (Templeman e Robinson, 2011). Dificuldades em relação à implementação, comunicação interdisciplinar e uma visão compartilhada entre os praticantes são barreiras observadas na integração da prática da Medicina Integrativa. A chave para a integração bem-sucedida em alguns centros de saúde envolveu programas de educação e diretrizes de referência para os praticantes (Templeman e Robinson, 2011).
Exemplos vindos de outros países que adotaram sistemas de saúde com abordagens integrativas de promoção da saúde mostraram que tais sistemas são econômicos e eficazes, pois reduzem a demanda por serviços e custos hospitalares públicos. No entanto, a realização de uma prática verdadeiramente integrada requer a colaboração em todas as disciplinas médicas e não médicas, bem como o apoio de organizações governamentais, institucionais, profissionais e de pesquisa, a fim de alcançar a concordância entre Medicina Convencional, com respeito mútuo e comunicação e compreensão dos papéis, responsabilidades e limitações de cada profissional (Templeman e Robinson, 2011).
Referências:
Bell IR, Caspi O, Schwartz GE, Grant KL, Gaudet TW, Rychener D, Maizes V, Weil A. Integrative medicine and systemic outcomes research: issues in the emergence of a new model for primary health care. Arch Intern Med. 162(2):133-40, 2002.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS. Brasília, DF: MS; 2006. (Série B. Textos Básicos de Saúde).
Gannotta R, Malik S, Chan AY, Urgun K, Hsu F, Vadera S. Integrative Medicine as a Vital Component of Patient Care. Cureus. 10(8): e3098, 2018.
Otani MAP, Barros NFA. Medicina Integrativa e a construção de um novo modelo na saúde. Ciência & Saúde Coletiva 16 (3): 1801-1811, 2011.
Templeman K, Robinson A. Integrative medicine models in contemporary primary health care. Complementary Therapies in Medicine 19(2): 84–92, 2011.